Como a genética está revolucionando a indústria aquícola nacional 6b542s
Avanços na genética e programas de melhoramento buscam elevar o patamar do peixe brasileiro, mostrando os caminhos para o futuro do setor 6t2i2f
06 de junho de 2025 2b45
A genética é, muitas vezes, vista como um campo técnico e distante da rotina da produção e, principalmente, do consumidor final. Mas basta olhar para os alimentos do nosso prato e refletir que tudo ali é, basicamente, fruto de ciência aplicada na genética e de técnicas de melhoramento genético. Afinal, a prática da seleção não é nova na história da humanidade e, desde os primórdios da agricultura e da domesticação de animais, o ser humano observa e escolhe os indivíduos mais produtivos ou adaptados. Porém, a compreensão científica sobre a hereditariedade e os genes - que emergiu no início do século ado - permitiu transformar essa prática empírica em ciência aplicada.
Já o melhoramento genético tornou possível, por exemplo, reduzir o ciclo de produção de frangos de 90 para 40 dias, conquista esta que teve efeitos diretos na segurança alimentar e no o da população a proteínas animais. “Na década de 70, o brasileiro consumia cerca de 3 kg de frango por ano. Hoje, esse número chega aos 45 kg. Ou seja, esse incremento na produtividade possibilitou a redução do preço do frango, bem como a expansão do consumo na população”, diz o professor da Universidade de Mogi das Cruzes e coordenador do Laboratório de Genética de Organismos Aquáticos e Aquicultura, Alexandre Hilsdorf.
A vez da piscicultura
Enquanto a agropecuária colhe os frutos de mais de um século de seleção genética dirigida, a piscicultura ainda está praticamente nos seus primeiros os. Os primeiros programas científicos de melhoramento genético de peixes surgiram na Noruega, com o salmão, na década de 1970. Já hoje, estima-se que cerca de 99% do salmão consumido no mundo venha da aquicultura.
No Brasil, o avanço foi impulsionado por outra espécie: a tilápia. A história desse sucesso começa com o programa GIFT (Genetically Improved Farmed Tilapia), iniciado na Ásia nos anos 1980, com apoio da WorldFish. O programa cruzou diferentes linhagens de tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) - oriundas do Rio Nilo e de outras regiões - criando famílias com maior variabilidade genética, base para a seleção dos indivíduos superiores.
A introdução dessas variedades GIFT no Brasil aconteceu no começo dos anos 2000 pelo Departamento de Zootecnia da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e transformou a tilapicultura nacional. “Quando fiz Zootecnia, na década de 1980, a tilápia chegava a 500 g em cerca de 8 meses, dependendo da temperatura. Na época, era impensável ter uma tilápia economicamente viável de 800 a 1 kg”, conta Hilsdorf. Hoje, as variedades geneticamente melhoradas como a GIFT, atinge esse peso em sistemas intensivos, com manejo adequado e temperaturas ideais em média de 5 a 6 meses.
A comparação não é meramente estatística. Afinal, o avanço genético viabilizou a produção em escala industrial e colocou o Brasil entre os maiores produtores mundiais da espécie. “É na tilapicultura que as estratégias de seleção vêm mostrando maior perenidade e impacto sobre os índices zootécnicos da produção", completa o professor Ricardo Ribeiro, da Universidade Estadual de Maringá (UEM), e um dos responsáveis por trazer a GIFT ao Brasil.
Ribeiro reforça que, atualmente, o método predominante nos programas é a genética quantitativa, amplamente utilizada em outras cadeias animais e vegetais. “Hoje, estimamos que temos no Brasil entre oito e dez programas independentes sendo conduzidos”, diz. A maioria segue o modelo clássico, mas já existem iniciativas com o uso de tecnologias moleculares como métodos auxiliares e com grandes perspectivas para o futuro.
Este texto é a parte 01 da matéria de "Capa" da Seafood Brasil #58. Para ler esta e outras matérias desta edição na íntegra, clique aqui.
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Créditos imagens: UEM
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